segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

lição 7 -TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE

TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE
Texto Áureo: Fp. 4.13 – Leitura Bíblica: Fp. 4.10-19

Pb. José Roberto A. Barbosa
Twitter: @subsidioEBD

INTRODUÇÃO
Um dos principais problemas da Teologia da Ganância está na ausência de princípios sólidos para a interpretação da Escritura. Seus adeptos utilizam textos isolados e descontextualizados para justificar pontos de vistas antibíblicos. Filipenses 4.13 é um exemplo desse tipo de equívoco, não poucos citam esse texto para argumentar que podem fazer qualquer coisa. Na lição de hoje, estudaremos essa passagem atentando para o contexto, que nos conduzirá a uma percepção mais madura da fé, que nos orienta a confiar em Deus, independentemente das circunstâncias.

1. PRESO, MAS ALEGRE E CONFIANTE
A Epístola ao Filipenses foi escrita por Paulo, por volta de 63 d. C., pouco tempo depois desse mesmo Apóstolo ter plantado uma igreja naquela cidade, situada na Macedônia oriental, a 16 km do Mar Egeu (At. 16.9-40). Ao longo da Epístola, percebemos o forte laço de amizade entre os irmãos filipenses e Paulo, tendo esses enviado ajuda financeira ao Apóstolo várias vezes (II Co. 11.9; Fp. 4.15,16). Ao que tudo indica, Paulo teria visitado essa igreja duas vezes durante sua terceira viagem missionária (At. 20.1-6). A Epístola ao Filipenses é uma daquelas Cartas da Prisão (Fp. 1.7, 13, 14), quando o Apóstolo estava encarcerado em Roma (At. 28.16-31). Um dos objetivos dessa Epístola é agradecer a generosidade dos irmãos, em razão da oferta providenciada por eles (Fp. 4.14-19). Mesmo preso em Roma, Paulo revela sua confiança em Deus, e roga aos irmãos para que não fiquem desanimados por causa da sua condição (Fp. 1.12-26). Ele aproveita a oportunidade para orientar os crentes para que estejam alegres – uma palavra chave na Epístola aos Filipenses, chara em grego – em todas as circunstâncias da vida (Fp. 1.4, 12; 2.17,18; 4.4, 11-13). Ao contrário do que defendem os adeptos do pseudopentecostalismo, propondo um modelo triunfalista de cristianismo, Paulo instiga à humildade e ao serviço cristão, ressaltando o exemplo de Cristo, que mesmo sendo Deus, tomou forma humana, como servo (Fp. 2.1-16).

2. TUDO PODEMOS, INDEPENDENTEMENTE DAS CIRCUNSTÂNCIAS
A vida cristã não é orientada pelas circunstâncias, tendo em vista que somos desafiados, a todo o momento, a vivermos acima delas. Paulo nos ensina, nessa Epístola, a vivermos contentes, a não nos deixarmos solapar pelas vicissitudes existenciais. Mas o contentamento não é algo que se consegue do dia para a noite, é resultado do fruto do Espírito (Gl. 5.22), trata-se de uma alegria que não se deixa abalar, mesmo quando tudo parece não se ajustar ao nossos bem estar. A esse respeito diz o Apóstolo: “Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre” (Fp. 4.11). O contentamento é resultado de aprendizado, e muitas vezes, com provas difíceis, e certamente, com notas baixas. Às vezes, é preciso perder bastante para aprender que é “grande fonte de lucro a piedade com o contentamento” (I Tm. 6.6). A palavra contentamento em grego é autarkes e diz respeito à suficiência, a convicção de ter o que é preciso, a certeza de que o Senhor é o nosso Pastor e de que nada nos fará falta (Sl. 23.1). É a certeza de que Deus providencia o que necessitamos, uma satisfação por ter as carências básicas supridas pelo Senhor (I Tm. 6.8; Hb. 13.5). A declaração de Paulo “tudo posso” precisa ser compreendia nesse contexto, não como uma palavra mágica que pode ser utilizada para fazer coisas que estão além da vontade soberana de Deus. O Apóstolo sabia estar diante de Deus em toda e qualquer situação, tal como José que demonstrou ser fiel tanto na fartura quanto na necessidade (Gn. 45.5; 50.20). Algumas pessoas não sabem passar por necessidades, outras não conseguem lidar com a fartura, mas o cristão maduro, pode, independentemente das circunstâncias, viver para Deus (II Co. 6.16-18).

3. NAQUELE QUE FORTALECE
A prosperidade material, amplamente almejada nesses dias, tem causado mais malefícios do que bênçãos. Muitas igrejas estão esquecendo de buscar ao Senhor, investiram demasiadamente em construções, mas deixaram de dar o o devido valor à edificação espiritual (Ap. 3.17). Cristo é o Mestre que nos ensina a não vivermos ansiosos, a não estamos demasiadamente preocupados com as necessidades da vida e a não depositar a nossa confiança nas riquezas (Mt. 6.25-34). A fonte da qual recebemos contentamento, satisfação plena, é Cristo, pois sem Ele nada podemos fazer (Jo. 15.5). Paulo não estava desprezando a oferta generosa dos irmãos filipenses, antes os elogia pelo desprendimento. Ele destaca, fazendo um contraponto, que eles foram de encontro com a necessidade dele, mas que Deus iria de encontra a todas as suas necessidades, que Ele havia contribuído mesmo na pobreza, mas que Deus supriria as suas necessidades em Suas riquezas em glória (Fp. 4.18,19). É importante destacar que Deus não promete suprir todas as nossas “ganâncias”, mas todas as nossas "necessidades". Muitas pessoas não conseguem vivem contentes porque se deixam levar pelas supostas necessidades criadas pela mídia, movida pela sociedade de consumo, que não permite que se encontre plena satisfação.

CONCLUSÃO
Precisamos aprender, como Paulo, a viver contentes, a encontrar plena satisfação em Cristo. Muitos pedem, declaram, até citam Jo. 14.13, achando que receberão qualquer coisa que pedirem, mas não relativizam, que muitos pedem, mas não recebem, porque pedem mal, para esbanjar em seus deleites carnais (Tg. 4.2,3). Somente aqueles que aprenderam na escola de Cristo a estarem satisfeitos nEle, podem dizer, com o Apóstolo, que: “tudo podem naquele que me fortalece”.

BIBLIOGRAFIA
LOPES, H. D. Filipenses. São Paulo: Hagnos, 2007.
MARTIN, R. P. Filipenses: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1986.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Lição 2 - 1º Trimestre de 2012

A PROSPERIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO
Texto Áureo: Gn. 39.3 – Leitura Bíblica: Dt. 8.11-18

Pb. José Roberto A. Barbosa

INTRODUÇÃO
Interpretar os textos bíblicos no contexto, inclusive o histórico-teológico, é condição para a apropriada aplicação das verdades bíblicas. Os adeptos da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância) utilizam passagens descontextualizadas (e isoladas) do Antigo Testamento para justificarem suas doutrinas. Para evitar tais equívocos, estudaremos, na aula de hoje, sobre como o Antigo Testamento aborda a questão da prosperidade, destacando que, mesmo no Antigo Pacto, a posse de bens materiais implicava em responsabilidade, em uma dimensão ética.

1. RIQUEZA E PROSPERIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO
A abordagem em relação à riqueza no Novo Testamento é distinta daquela apresentada no Antigo Testamento. No Novo Testamento os textos que se referem à riqueza são geralmente negativos, diferentemente daqueles da Antiga Aliança. Isso porque no Antigo Testamento, no pacto de Deus com Israel, a riqueza é algo desejável e agradável a Deus para o Seu povo. Essa distinção não costuma ser percebida pelos pregoeiros da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância). Eles adoram propagar nos canais de televisão que Deus abençoou Abraão e que, do mesmo modo, pretende enriquecer aqueles que os seguirem. Mas é preciso atentar para o papel da riqueza e da pobreza no Antigo Testamento, especialmente no que tange a Abraão. Tanto esse servo de Deus quanto Jó podem ser categorizados entre os ricos justos, isto é, eles não colocaram sua confiança na riqueza, mas em Deus, por isso, no caso de Abraão, este deixou sua parentela, a cidade de Ur onde morava e partiu em busca de uma terra que o Senhor prometeu. Na medida em que Abraão sai, ele abre mão das suas riquezas, demonstrando, assim, que não dependia da prosperidade material, isso fica evidente na disputa entre os pastores de Ló, sobrinho de Abraão, e os seus pastores. Em uma atitude de confiança em Deus, Abraão deixa que Ló escolha o lado para o qual pretende ir. Uma das provas bíblicas de que Abraão não se fiava na riqueza se encontra em Gn. 14.21-24 onde está registrado o encontro deste com o rei de Sodoma. Abraão não quis o enriquecimento que não viesse do Senhor, ele sabia fazer a diferença entre a benção de Deus e a prosperidade dos homens. Jó é outro exemplo de rico justo no Antigo Testamento, ele é reconhecido pelo próprio Satanás que Deus o abençoou com bens materiais. O Inimigo questiona se a causa do amor de Jó a Deus não está baseado nas riquezas. Jó demonstra, em sua experiência provada, que ainda que morra não deixará de confiar em Deus. Quando a riqueza e a prosperidade material toma o primeiro lugar, o homem se distancia de Deus, isso pode ser comprovado nas atitudes de Salomão. Este monarca, em sua riqueza e prosperidade, se torna motivo de glória para o reino, mas ao contrário de glorificar a Deus, se torna opressão para os filhos de Israel.

2. AS CONDIÇÕES PARA A RIQUEZA NO ANTIGO TESTAMENTO
De acordo com a revelação do Antigo Testamento, é Deus o verdadeiro proprietário das riquezas, por isso, Ele a entrega a quem deseja. É neste sentido que Salomão admite que “na mão direita, a sabedoria lhe garante a vida longa; na mão esquerda, riqueza e honra” (Pv. 3.16). Ana, em sua oração, também reconhece que “O Senhor é quem dá pobreza e riqueza; ele humilha e exalta” (I Sm. 2.7). Davi assim também expressa em sua oração: “Ó Senhor nosso Deus, toda essa riqueza que ofertamos para construir um templo em hora ao teu santo nome vem das tuas mãos, e toda ela pertence a ti” (I Cr. 29.16). No Antigo Testamento, a riqueza deva ser compreendida como benção de Deus, mas sua utilização tem uma dimensão ética. Por isso Ezequiel questiona o príncipe de Tiro quando esse se vangloria ao dizer “eu me enriqueci” (Ez. 29.3). Mesmo no Antigo Testamento não é correto desejar as riquezas, considerando que o Senhor destacou que Salomão foi distinto ao não pedir “uma vida longa nem riquezas” (I Rs. 3.11). Não é certo requerer riqueza de Deus, por isso, destaca o sábio: “Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário” (Pv. 30.8). E ainda “Não esgote suas forças tentado ficar rico; tenha bom senso! As riquezas desaparecem assim que você as contempla; elas criam asas e voam como águias para o céu” (Pv. 23.4,5), e mais: “Quem tenta enriquecer-se depressa não ficará sem castigo” (Pv. 28.20). Paradoxalmente, as pessoas, atualmente, exaltam aqueles que enriqueceram, ainda que os meios sejam escusos. O enriquecimento não deve ser, desde a Antiga Aliança, um fim em si mesmo, ter dinheiro, por sua vez, acarreta em responsabilidade. O orgulho proveniente das riquezas pode conduzir as pessoas para distante de Deus, ao invés de aproximá-las dEle. Os profetas denunciaram com coragem o amor às riquezas: “Efraim orgulha-se e exclama: ‘Como fiquei rico e abastado! Em todos os trabalhos que realizei não encontrarão em mim nenhum crime ou pecado’” (Os. 12.8), sem dar a devida atenção para o “Mas” de Deus (Os. 12.9). Deus não se deixa impressionar com aqueles que adquirem riquezas para si, e põem a confiança no dinheiro, principalmente quando tal prosperidade vem por meios injustos. Em Pv. 13.11 está escrito que “O dinheiro ganho com desonestidade diminuirá, mas quem o ajunta aos poucos terá cada vez mais”. Sabemos que da perspectiva exegética, os Provérbios não podem ser generalizados, mas fica evidenciada, no texto, a insatisfação de Deus com a riqueza acumulada indevidamente. Apropriada a palavra profética: “O homem que obtém riquezas por meios injustos é como o perdiz que choca ovos que não pôs. Quando a metade da sua vida tiver passado, elas o abandonarão, e, no final, ele se revelará tolo (Jr. 17.11). Os teólogos da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância) não leem os escritos proféticos, apenas os históricos, se assim fizessem, perceberiam que Deus condena Israel porque “vendem por prata o justo, e por um par de sandálias o pobre” (Am. 2.6). Eles não poupam os juízes e os sacerdotes, já que “seus líderes julgam sob suborno, seus sacerdotes ensinam visando o lucro, e seus profetas adivinham em troca de prata. E ainda se apoiam no Senhor” (Mq. 3.11). Quantos hoje dizem servir a Deus, mas agem apenas com interesse no dinheiro, o $erviço cristão, em alguns contextos eclesiásticos, é escrito com cifrão. O dinheiro conduz a uma falsa segurança (Pv. 10.$5) e leva seus adoradores a desejarem sempre mais (Ec. 5.10). Os que vivem regaladamente hoje, usufruindo de recursos indevidos, receberão, no tempo devido, o julgamento de Deus, pois “de nada vale a riqueza no dia da ira divina” (Pv. 11.4).

3. RECOMPENSA E BENÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
No Antigo Testamento, a riqueza é uma recompensa pela fidelidade a Deus, isso percebemos no caso de Josafá, quando o Senhor firmou o seu reino por causa da obediência a Deus, mas, principalmente, pelo uso apropriado dos pertences (II Cr. 17). A sociedade contemporânea, fundamentada em um capitalismo selvagem, idolatrou o acúmulo de riquezas. Os heróis do presente não são aqueles que agem com generosidade, mas os que retêm tudo que podem exclusivamente para eles. Os bilionários se tornaram os deuses do presente, o Mercado assumiu o trono no coração de muitos, a bolsa de valores determina as ações das pessoas. Versículos isolados do Antigo Testamento não podem ser utilizados irresponsavelmente para justificar a opressão e a pobreza. Os adeptos da Teologia da Prosperidade (ou da Ganância) gostam de citar Pv. 10.22, argumentando que “A benção do Senhor traz riqueza”, mas esquecem que “A riqueza dos sábios é a sua coroa” (Pv. 14.24) e que “A recompensa da humildade e do temor do Senhor são a riqueza, a honra e a vida” (Pv. 22.4). Os livros de sabedoria, dentre eles Salmos e Jó, explicitam a natureza da prosperidade e põem a ênfase sobre o temor ao Senhor: “assim são os ímpios, despreocupados, aumentam suas riquezas” (Sl. 73.12) e “não confiem na extorsão, nem ponham a esperança em bens roubados; se as suas riquezas aumentam, não ponham nelas o coração” (Sl.62.10). A riqueza e a prosperidade é uma concessão de Deus, mas somente em sentido amplo, pois os ricos podem ajuntar bens, apenas para confiar neles e se distanciar do Senhor. Por isso, “os ímpios passam a vida na prosperidade e descem à sepultura em paz. Contudo, dizem eles a Deus: ‘deixe-nos! Não queremos conhecer os teus caminhos. Quem é o Todo-poderoso, para que o sirvamos? Que vantagem temos em orar a Deus? (Jó. 21.7-15). O rico tem uma propensão a confiar em suas riquezas, e a depender daquilo que conseguiu acumular, vive como se Deus não existisse, e se acredita nEle, não põe nEle sua confiança.

CONCLUSÃO
No Antigo Testamento, a riqueza é uma dádiva de Deus, mas precisa ser utilizada com cautela, pois implica em responsabilidade. A riqueza não pode ser vista como uma propriedade pessoal, ela está na dimensão do sagrado, na relação com o outro. Por isso, para Israel, sua plenitude tem uma dimensão escatológica, tendo em vista que, no futuro, “se alimentarão das riquezas das nações, e do que era o orgulho delas vocês se orgulharão” (Is. 61.1). Mas isso não é para agora, se cumprirá por ocasião do Milênio, nada tem a ver com a Igreja contemporânea, como apregoa a Teologia da Prosperidade. Por enquanto, na fatura ou na necessidade, devemos admitir, conforme foi revelado a Abraão, que o Senhor, e somente Ele, é nossa Recompensa (Gn. 15.1).

BIBLIOGRAFIA
ELLUL, J. O homem e o dinheiro. Brasília: Palavra, 2008.
FOSTER, R. J. Dinheiro, sexo e poder. São Paulo: Mundo Cristão, 2005.